N’Gunu Tiny, a 28 de dezembro de 2020.

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção, e é certamente verdade que tempos de grandes desafios são, frequentemente, catalisadores de mudanças profundas. Em África, a COVID-19 tem dado um foco renovado à reforma educativa. Há uma necessidade urgente de soluções inovadoras no Sistema de Ensino Africano, e de que os Governos invistam em educação online, acessível e de alta qualidade.

A pandemia tem tido um impacto negativo no Sistema de Ensino Africano  

A COVID-19 deixou 250 milhões de crianças em África sem ensino. Esta crise demonstrou que a inovação social na área da educação nunca teve tanta importância.

A maioria dos países desenvolvidos em todo o mundo foram capaz de se adaptar ao ensino online com relativa facilidade. No entanto, os países em desenvolvimento não tiveram a mesma experiência. A falta de infraestruturas e o custo exagerado para o uso de dados deixou as crianças sem qualquer meio de ensino, razão pela qual alguns países africanos começaram a lutar por custos mais baixos. 

Desigualdade e falta de infraestruturas e acessibilidade básicas 

Um exemplo da luta das crianças africanas durante o confinamento pode ser percecionado ao analisar a resposta da África do Sul. Três dias após o confinamento nacional, imposto em março de 2020, foi lançado o STEM Digital Lockdown School pelo Departamento de Educação Básica e os Africa Teen Geeks (ATG). 

Utilizando uma plataforma de Inteligência Artificial, este sistema chegou a mais de meio milhão de estudantes por todo o país e foi tornado acessível a todas as crianças na África do Sul com acesso à internet e a um computador. 

Tudo isto parece ótimo até olharmos para o número de estudantes que não conseguiram tirar proveito deste sistema de ensino à distância. Existem mais de 12 milhões de estudantes na África do Sul, e apenas cerca de 500 000 o puderam utilizar. Porquê? Devido à desigualdade. O ensino online é a única arma no nosso arsenal que possibilita que o ensino prossiga durante tempos de crise sem precedente, tal como a situação pandémica causada pela COVID-19. No entanto, é devastador que assim seja para pessoas sem acesso à internet, sem computador e sem esperança de os vir a adquirir.

Porque está África a ficar tão atrás dos países desenvolvidos no que toca à digitalização e acessibilidade? 

Milhões de Africanos não têm acesso à internet 

Em 2017, a Câmara dos Lordes afirmou que a literacia digital deve ser considerada “o quarto pilar para a educação de uma criança, conjuntamente com a leitura, a escrita e a matemática, e deve ser financiada em concordância.” Mas o facto é que milhões de estudantes em África não estão conectados ao mundo online. De acordo com o Projeto Internet for All do Fórum Económico Mundial, estas são as razões: 

Quase um terço da população mundial não tem cobertura 3G. Uns perturbantes 15% ainda não têm acesso à eletricidade, sendo que, na África Subsaariana, cerca de dois terços da população não têm acesso à eletricidade numa base regular e consistente. O mesmo se aplica a quase 25% dos residentes no Sul da Ásia. 

Acresce que cerca de 13% da população mundial vive abaixo do limiar de pobreza. Para estas pessoas, e biliões de outras, é demasiado caro ter acesso à internet. A banda larga apenas é acessível para o total da população em 29 dos 195 países no mundo.  

A ausência de educação é uma barreira às capacidades necessárias para aceder à internet. Cerca de 15% dos adultos em todo o mundo são iletrados. Podem ainda ser consideradas questões culturais, com as mulheres a terem metade da probabilidade de utilizar a internet face aos homens, em vários países. 

O ensino online pode criar barreiras entre pessoas. A maioria dos conteúdos disponíveis para o garantir (cerca de 80%) apenas está acessível em dez línguas. África tem cerca de 2000 línguas. Existe ainda um certo nível de desconfiança e ceticismo por parte de algumas comunidades locais no continente que, por não confiar necessariamente na tecnologia, preferem evitá-la. 

África deve transformar o seu Sistema Educativo para um futuro melhor  

Este intervalo na educação para milhões de crianças em África deve funcionar como um botão de reset para o continente. COVID-19 tem de servir como catalisador da reforma necessária e África deve utilizar esta oportunidade para reinventar o seu sistema educativo. 

Existe uma verdadeira revolução tecnológica a chegar a todos os cantos do mundo e, finalmente, ela está a ter efeitos transformadores em África também. É a oportunidade para redesenhar o sistema educativo, ao enfrentar os problemas da exclusividade e da desigualdade. 

África, na sua maioria, está a mover-se diretamente em direção aos smartphones e tecnologia móvel. De certa forma, existe a ultrapassagem da fase de adotar tecnologia de linha fixa, o que é muito positivo para o continente. A tecnologia deve ser usada para fazer progredir tão rápido quanto possível. 

Aqui ficam algumas maneiras que África pode usar para mudar o seu sistema educativo.

O acesso a internet barata é urgente. É crítico que os Governos Africanos rapidamente compreendam que se trata de uma necessidade básica para toda a gente, e de um serviço essencial. É expetável que venha a existir uma infraestrutura de banda larga por todo o continente para garantir que ele se concretize. 

Para além de infraestruturas de TI, há uma necessidade urgente de melhorar a infraestrutura educativa. Isto é particularmente verdade para as áreas rurais. Várias escolas por toda a África não têm acesso a saneamento básico e água limpa. Na África do Sul, quase três quartos da escolha não têm bibliotecas, e 81% não têm laboratórios. Existe uma imposição urgente de modernizar recursos e melhorar as estruturas básicas providenciadas a professores e escolas. 

A COVID-19 ainda cá está, e não irá embora tão cedo. Até lá, temos de nos adaptar ao novo normal. O foco, em África, deve mudar de quando é que as escolas podem reabrir em condições para o ensino à distância. As aulas devem ser providenciadas em direto ou através de conteúdos gravados. 

O mais importante é que os Governos Africanos invistam na educação online e de qualidade, e que garantam que é acessível a todos os africanos. Apesar do acesso à internet ser um problema agravado em áreas mais rurais, instituições de Ensino Superior tais como a Universidade de Witwatersrand têm demonstrado que é possível desenvolver soluções inovadoras. Esta instituição tem trabalhado para providenciar tanto dispositivos como dados preciosos para quem mais deles precisa. 

Há uma falta de competências digitais por toda a África, que pode ser resolvida através do fornecimento de banda larga e do investimento em infraestrutura de TI por todo o continente. O investimento em educação digital também é necessário, tal como o acesso a financiamento. 

Soluções colaborativas são necessárias dentro da área da educação, para que se vá além da literacia básica de computador e se entre na Quarta Revolução Industrial. África tem muito potencial inexplorado devido à falta de formação e educação. 

A recuperação da educação em África também implica uma minuciosa revisão do curriculum. Um currículo tem de ser relevante tanto para o mercado de procura atual, como para o futuro. O Departamento de Educação Básica na África do Sul está a desenvolver um novo currículo de Programação & Robótica para acabar com a lacuna de competências digitais. Os jovens em África têm a motivação, as ideias inovadoras e a força de vontade para poderem ser bem-sucedidos. Eles necessitam apenas de uma oportunidade justa, que se traduza em acesso a educação e formação. 

Não há melhor altura para que os Governos Africanos operem estas mudanças profundas no Sistema Educativo do continente. É essencial que África possa criar um futuro mais brilhante para a sua juventude. Com uma base de competências que inclua Programação e o contacto com a tecnologia emergente, não há limites para o futuro desta geração de Africanos.  

Artigo originalmente publicado em  http://www.54etats.com